Tudo na vida é o cuidado

Orquídea olho de boneca, em tons de rosa e púrpura

Tudo na vida é o cuidado. Eu já disse a vocês que eu tive uma avó muito sábia, rs? Essa é mais uma de suas máximas, que eram repetidas assim mesmo, nessa simplicidade do falar.

Na juventude, a vida tem sempre muita pressa. Só de uns tempos pra cá fui me dando conta do quanto de valor e sabedoria essas frases objetivas dos antigos carregam. Como essa ideia do cuidado.

Uma ideia que me parece bem representada no livro “As batalhas do Castelo”, de Domingos Pelligrini. O livro é de 2013, mas o autor está na estrada há bastante tempo. Lá em 1977 já ganhou o prêmio Jabuti com um livro de contos.

E confesso que eu não o conhecia, até que meu filho garimpou “as batalhas” em uma tenda na FLIP, feira literária, em Paraty, há alguns anos.

Eu sei que estamos aqui pra falar de cuidado, só que não resisto a falar de um autor quando sua obra me encanta. E “as batalhas...” com sua leveza infanto-juvenil, falando de coisas sérias, entrou para nossa vida em família.

É um livro que fala de otimismo, de acreditar que o ser humano pode ser bom e responsável. 
Que o ódio perde a força se for ignorado. Que tudo pode ser transformado com um pouco de atenção e cuidado. 

Se quiser saber mais sobre o livro tem um resumo bacana aqui https://literaturaempauta.com.br/Livro-detail/as-batalhas-do-castelo-critica e eu volto pra minha reflexão sobre o cuidado rs. 

As orquídeas pedem muito pouco

E ainda assim eu não estava lhes oferecendo nada. Atolada no trabalho, em um projeto que tem me consumido este ano, eu vinha ignorando minhas plantas queridas. Nos finais dos dias, exausta, eu, às vezes, olhava para elas e pensava: amanhã eu cuido.

E “amanhã” eu repetia esse roteiro descuidado.

Até que, em um dia ruim – quem não os têm? –, eu larguei os problemas e afazeres no meio do dia e realmente olhei para as orquídeas. Recolhi todas que se encontravam secas na varanda e levei para a área de serviço. Coloquei-as dentro de baldes com água para encharcar os vasos e, enquanto trocava um dedo de prosa com elas, fui borrifando as folhas e tirando a poeira. 

As espécies que ‘se acham’ mais raras ainda estão fazendo doce, mas já recuperaram o vigor das folhas e ensaiam raízes novas e suculentas. 

Orquídea em vaso de barro, com destaque para as raízes

As mais faceiras, dessas facilmente encontradas nas árvores por aí em grandes cachos, não guardaram mágoa, e, coisa de uma semana depois, me brindaram com flores. Certamente de botões que já estavam lá, verdes, escondidos entre as folhas desidratadas. E eu não havia notado; por falta de cuidado. 

O cuidado transforma o sujo em limpo, o choro em riso, o arbusto em flor. Transforma o Castelo do Canto, que abrigava excluídos da sociedade, em um ducado próspero. Tudo na vida é o cuidado.

Por conta das orquídeas faceiras, eu puxei minha própria orelha e prometi ter mais cuidado. Com minha casa, com as pessoas que amo, com a estação das flores que passa tão rápido.

E, se me permitir a ousadia, vai aí o conselho: fique atento às pessoas que, de um jeito ou de outro, cuidam de você. Quanto amor e carinho e preocupação com o amado essa frase curtinha carrega. Se cuida, toma cuidado, stai atento, take care, cuidate...

Mulher de cabelos cacheados, usando óculos
Maria D´Arc Hoyer é jornalista

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