Crônicas de despedida: os pirilampos

Paisagem com céu estrelado e vagalumes

Poucos dias atrás eu vi um vagalume. Posso apostar que faz muito tempo que você, aí do outro lado, não vê um. Se é que já viu, ao vivo, voando, apagando e acendendo a bunda a intervalos regulares.

Há vários anos eu sequer pensava neles. Apesar de ter vivido a primeira infância em locais onde eles eram comuns, o prazer de observá-los foi ficando para trás, perdido na bruma das ocupações do mundo adulto. E, assim, não me dei conta que eles não são mais fáceis de encontrar.  

Mas, naquele dia, vendo esse único pirilampo solitário vagando em busca de uma parceira para nos brindar com novos pirilampinhos, me dei conta de que eles estão mesmo desaparecendo.

A culpa disso, obviamente, é dos humanos. Os vagalumes, ou pirilampos, levaram muito tempo em seu processo evolutivo desenvolvendo a capacidade de brilhar no escuro para poder encontrar uma parceira e procriar.

Eis que vieram as pessoas e desenvolveram as luzes artificiais para que pudessem continuar trabalhando e se divertindo também à noite. Na claridade, as lanternas dos bichinhos não têm o resultado necessário de atrair uma fêmea. 

A última vez que eu vi uma quantidade impressionante de vagalumes foi há 18 anos. Em um momento comum na época e agora mágico na lembrança.

Foi na chácara do meu tio Joel, na divisa de Redenção da Serra com Paraibuna. Meu filho tinha dois anos. Como acontece com os pais quando surge a oportunidade de partilhar algo com seus rebentos, fiquei eufórica quando vi a encosta na frente da casa coalhada de vagalumes, logo ao anoitecer. Pareciam estrelas bailarinas ao alcance de nossas mãos.

Ficamos lá, eu, meu marido e meu filho sentados observando aquele show de luzes.

Daquele instante pra cá, muitas despedidas ocorreram. Meu tio Joel, por exemplo, já partiu em sua última viagem há alguns anos e nunca mais voltamos à chácara. 

Ficaram no passado também os dias de reunião para fazer pamonha e bolinho caipira. Eventualmente correr atrás de içás, quando o prenúncio de uma boa trovoada provocava a revoada dos formigueiros. 

Mas a visão da encosta cintilante ficou guardada em algum lugar da minha memória e foi resgatada quando vi aquele único vagalume acima dos arbustos, vagando sozinho, acendendo e apagando, perdido lá nos fundos de um condomínio, em Caraguatatuba, onde ainda existe terrenos e um pouquinho de escuridão.

O que eu estava fazendo lá no escuro? Supervisionando a finalização do trabalho de um eletricista que cuidava da instalação de mais cabos elétricos e da reativação de luminárias. 

Mulher com cabelos cacheados e óculos
Maria D´Arc Hoyer é jornalista

Foto de vagalumes: Photo by Mike Lewinski on Unsplash




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