Na cama com Machado e Greene

Livros sobre traveisseiro ao lado de mesa de cabeceira com abajur

Ontem, uma terça-feira que começou bastante comum terminou de modo especial. Fui para a cama com duas ótimas companhias. Resultado de uma dessas descobertas inusitadas e felizes que transformam a dia da gente. Estando no litoral, em Caraguatatuba, a serviço passei em um cartório onde vou com alguma frequência para tratar de documentos e surpresa: um sebo foi aberto ao lado do cartório. Porta colada com porta.  Entrei, é lógico. 

Há em maior número as pessoas que se encantam por boutiques, bares e restaurantes. Mas o canto da sereia que me atinge são as lojas de livros. E se for um sebo, muito melhor. São histórias que já vêm com história. Trazem em si muitas impressões. Uma dedicatória com mensagem  indecifrável, uma assinatura que determina posse, uma data... 
Quando me deparo com um desses pequenos mistérios, passo deliciosos instantes a imaginar que emoções eles abrigam. Teriam testemunhado lágrimas, sorrisos, suspiros; quem sabe palavrões incontidos.

O sebo em questão abriu há pouco mais de dois meses. É arejado, iluminado, tem atendentes simpáticos - condição essencial para o negócio de comercializar livros - e, de quebra,  garrafas de café em uma mesinha ao lado da porta para conquistar os clientes. Quem resiste? Eu, certamente, não. 

Sem tempo na agenda para me perder entre os títulos, parei junto à estante das promoções e saí de lá com meus dois novos companheiros: crônicas de Machado de Assis e  o romance-drama Expresso do Oriente de Graham Greene. 

Escolher dois livros entre centenas de outros que gostaríamos de ler é sempre um feito para se orgulhar, convenhamos. 

Esses dois livros não vieram com dedicatórias ou qualquer outra anotação. E penso que o motivo é que originalmente foram brindes ofertados pelos jornais Folha de S.Paulo e Estadão aos assinantes. Uma promoção comercial que, tudo indica, já se perdeu na roda implacável do tempo. Estamos na época em que os livro digitais podem ser lidos 'unlimited' a partir de uma módica assinatura em um famoso portal de vendas da internet. É importante esclarecer que nada tenho contra isso. 

Provavelmente os exemplares foram descartados no sebo para desocupar espaço em alguma estante. E eu paguei por eles feliz. Em nome dos autores ilustres e das minhas memórias dos bons tempos em que trabalhei para esses dois grandes jornais. Eu disse que eram bons tempos, não que era fácil rs. 

Como nunca consigo ler apenas um livro por vez, Machado e Greene, juntos, estarão na cama comigo por várias noites até que Morfeu me abrace. Ler é um prazer tão igual quanto diferente para cada pessoa.  E quando meu tempo com eles terminar, voltarei ao sebo e conquistarei  outros amores usados e baratos, mas repletos de valores que não têm preço para quem ama ler. 

Mulher grisalha, cacheada, usando óculos
Maria D'Arc é jornalista



Postar um comentário

0 Comentários