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| Foto/Canva |
Hoje choveu por aqui e os guarda-chuvas saíram das gavetas, de trás das portas, das mochilas dos estudantes que passam em frente ao meu portão, protegendo os uniformes escolares, os cabelos alisados com chapinha e as cabeças ocupadas dos trabalhadores. Eles têm uma variedade de cores e os das crianças até alguns adereços como orelhas ou visores transparentes.
Observando o vai e vem dessa proteção corriqueira, me dei conta de como esse objeto é especial. Um cantinho no mundo pra chamar de seu. Acho que é isso que os guarda-chuvas oferecem. Além de nos cobrir da chuva, podem dar aquela oportunidade de andar de braços dados com alguém especial ou ainda "quebrá-lo na testa" para fugir da obrigação de cumprimentar alguém pouco simpático.
Os registros sobre sua origem são complexos e não vou me estender sobre esse tema, mas, entre outras hitórias, diz-se que remonta à Mesopotâmia - onde hoje é o Iraque - há mais de três mil anos, quando era usado para proteger os reis e nobres do sol escaldante daquela região. Em algum momento de sua trajetória, os chineses passaram a fabricar essa cobertura com um tecido encerado para repelir a chuva. Algo mais próximo das versões que temos até hoje. Ainda assim, por muito tempo foi de uso exclusivo das mulheres; os homens só deixaram de se encharcar por volta do século dezoito.
Enfim, popularizado e muito útil, penso que, agora, o guarda-chuva ou sombrinha, é um indicador de personalidade, um instrumento de comunicação. Mas nem sempre pensei assim ou sobre isso.
Durante quase a vida toda fui uma pessoa de guarda-chuvas pretos, sombrinhas escuras e monocromáticas, tudo muito sem graça. Combinando com o tempo nublado e com a carranca de quem está sempre muito ocupado. Comprava sempre os pequenos que, devidamente encolhidos, coubessem na bolsa. Ser prático era condição indispensável, o resto pouco importava. Um dos melhores que tive, me foi roubado ao ser deixado em cima do balcão de uma loja, enquanto pagava a conta. Que raiva passei naquele dia indo embora na chuva, rs!
De uns tempos pra cá (porque mudar é preciso), passei a observar que guarda-chuvas coloridos e até engraçados cumprem a função extra de levar rasgos de diversão aos dias sisudos.
Decidi, então, de agora em diante, comprar guarda-chuvas mais divertidos. Que acrescentem cor aos dias chuvosos e, quem sabe, também me ajudem no processo de seguir a vida com mais leveza.
Também não vou me importar se esquecer algum por aí. Quem nunca perdeu um guarda-chuva é porque não abriu espaço na mente para se distrair com a vida, com a poesia da chuva. Se eu o perder, alguém o achará, abrirá e conforme for o desenho, abrirá também um sorriso. E então minha nova proposta de personalidade em dia de chuva fará alguém feliz por um instante.
Nessa ideia de se encontrar e se perder com a graça de guarda-chuva travesso ainda estou trabalhando. Mudanças internas são mais difíceis de implementar do que a compra de modelos divertidos de guarda-chuvas. Mas estou em movimento, como uma sombrinha de frevo, e isso é tudo que importa.
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| Maria D'Arc é jornalista |


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