Tem dias que a gente entra no carro e sai no automático, quando percebemos já chegamos ao nosso destino e nem reparamos no trajeto. Dá até um friozinho na barriga, como se tivéssemos sido teletransportados, tamanho o branco, o vácuo que fica entre o ponto de saída e o de chegada. Chegamos como se não tivéssemos saído.
Em outros dias pegamos o carro e saímos como se tivéssemos uma arma em nossas mãos. Cortamos pela direita, xingamos – porque de repente todo mundo parece muito lerdo – não deixamos ninguém cruzar o nosso caminho. Não damos seta, não cedemos espaço, não queremos conversa.
A gente só quer chegar e pronto. E sai logo da frente! O que que foi? Tá olhando o que? Comprou a carta? Está com a escritura da rua? E chegamos ao nosso destino já cansados, desanimados e sem energia.
Em outros dias saímos com os anjos pulando nos nossos ombros e falando coisas bonitas aos nossos ouvidos:
— Para pra ele sair do estacionamento.
— Deixa pra lá, ele não te viu, por isso te fechou.
— Calma, ele está no celular deve ser algo importante.
— Tudo bem ele ter parado do nada, alguma coisa aconteceu pra ele parar assim.
E por incrível que pareça conseguirmos chegar ao destino na mesma hora que das outras vezes, porém mais leves, tranquilos e sorrindo.
Como estou dirigindo?
Será que tenho ficado mais avoada sem prestar atenção em nada e em ninguém, olhando para o meu próprio umbigo, voltada para os meus próprios pensamentos? Arrodeando eles e eles me arrodeando sem que cheguemos a lugar algum?Será que é assim que eu tenho me comportado?
Sem conseguir ver paisagem nenhuma, apreciar a natureza, ignorando as cores das primaveras maravilhosas que simplesmente passam e ficam para trás nas ruas e avenidas?
Será que não estou nem aí para quem atravessa na minha frente, sigo por seguir, sem saber exatamente onde estou – e pouco me interessa – desde que esteja em algum lugar e pronto?
Como estou dirigindo?
Será que tenho enxergado tudo com raiva? Que não deixo as pessoas falarem e já vou logo metendo a buzina? Que não sinalizo a minha opinião, porque é obrigação dos outros saberem qual e a aceitarem?Será que não tenho dado espaço para que outras pessoas se apresentem nesse meu espaço?
Será que fico querendo competir o tempo todo para pegar a melhor vaga, mesmo que isso custe amizades? Será que eu grito, enquanto só falar calmamente já seria suficiente?
Será que essa energia que ando gastando nesses movimentos e atitudes raivosas e descontroladas é o que está me deixando cansada e sem vontade de chegar...?
Como estou dirigindo?
Será que consigo falar com meus anjos e mais do que isso, ouvir o que eles têm a me dizer? Será que consigo olhar a atitude do outro sem criticar?Será que consigo entender o problema do outro sem opinar? Será que consigo deixar passar e pronto, simplesmente, esquecer e quem sabe até, perdoar?
Será que eu realmente sei o valor do tempo e que não dá pra voltar atrás? Que não dá pra fazer de novo? Que não dá pra abraçar e beijar depois que se foi? Que não dá para dizer eu te amo depois que os olhos se fecharam?
Como estou dirigindo?
Nunca tivemos tanto tempo para pensar nisso.Nunca tivemos tamanha oportunidade de não só melhorar as nossas atitudes na direção desse carro chamado vida como até mesmo encontrar novos e melhores caminhos.
Não devemos dirigir olhando os erros que os outros cometem. Tampouco dirigir olhando só pelo retrovisor ou só para frente. Existem muitas opções que podem nos levar ao nosso destino de forma mais suave e tranquila, basta que a gente saiba aproveitar lembrando sempre que o bem mais importante nesse caminho se chama tempo.
Como você está dirigindo?
Edna Petri é jornalista e dirige sempre atenta aos pequenos encantos dos caminhos.
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