Busca Busca chega a São José dos Campos e muda cenário do centro da cidade

Fila na rua Sebastião Húmel, para entrar na loja Busca Busca

 A fila se estende por dois quarteirões e dobra a esquina junto ao prédio da biblioteca municipal. As ruas no entorno do mercado municipal de São José dos Campos, sempre solitárias aos domingos, estão repletas de veículos e pedestres. Mas o destino das pessoas não é o mercadão e sim conhecer a nova loja de produtos importados inaugurada há poucos dias na mesma região. É 13 de julho de 2025 e uma loja Busca Busca foi inaugurada há quatro dias.

O movimento incomum surpreende as pessoas que, como eu, foram curtir o ritual domingueiro de comer pastel no mercado. O balconista da pastelaria, até meio aborrecido (talvez cansado), conversa com clientes explicando que o movimento aumentou muito nesse domingo.

Curiosa, mas sem disposição nenhuma para enfrentar a fila, puxo conversa com o dono da banca de frutas onde comprei morangos e ele conta que é possível acessar as novas lojas descendo pela escada interna do Shopping Faro, que abriga o empreendimento. A escada, no entanto, leva a corredores onde estão instaladas lojas de fornecedores parceiros da loja principal. Assim, esbarrei de novo na fila, só que pelo outro lado.

Fui então ver as lojas satélites mesmo. São metros e metros de vitrines, prateleiras padronizadas e mercadorias que apesar das cores, modelos e aplicações diferentes, no fundo, parecem ter saído da mesma linha de produção; e talvez tenham mesmo.

Dois subsolos do shopping, que serviam para estacionamento, são agora templos de consumo de produtos essenciamente importados para vendas no atacado e varejo. Diversos outros espaços amplos nos andares superiores do Shopping Faro estão em obras, no ritmo acelerado das grandes mudannças, com suas montagens de prateleiras idênticas que mais parecem um jogo de peças de encaixar.

O presente é animador, mas o futuro próximo preocupa

Pequenos comerciantes, que já estavam no Shopping Faro antes da chegada avassaladora do gigante chinês, observam a mudança drástica e acelerada divididos entre a alegria do movimento de vendas e a preocupação com o futuro.

Andreia Pereira de Souza tem um pequeno quiosque de manutenção e acessórios para celulares, na entrada do shopping, na rua lateral ao mercado onde a fila se estende. “As vendas triplicaram desde que a inauguração da Busca Busca”, comemora ela, que está há quatro anos no local. No entanto, está inquieta com o futuro próximo, pois já sabe que o aluguel deve subir. Segundo ela, desde que as vendas se mantenham em alta, o reajuste do valor do espaço não seria um problema, o que preocupa é não ter certeza sobre quais outras mudanças podem estar a caminho.

O que já se sabe é que muitas outras lojas ligadas à Busca Busca estão prestes a abrir em todos os andares do shopping, conforme revelam as obras de montagem ocorrendo aos olhos de todos. Não há tapumes para esconder segredos; são mais prateleiras e vitrines padronizadas a serem lotadas com importados.

Parte dos lojistas do calçadão da rua 7 de Setembro também pegaram carona com o movimento da Busca Busca e abriram as lojas.

Entrada da Busca Busca na rua 7 de Setembro

Curiosidade e passeio em família

Acompanhados pelos três filhos pequenos, o casal William e Talita, de Jacareí, se juntam à fila por volta do meio dia. Apesar do inverno, o sol está ardido. Pergunto se vale a pena o esforço e Talita diz que sim, pois já conhece a Busca Busca do Brás e quer ver como ficou a loja de São José e também por estarem fazendo um passeio em família.

Na entrada da loja Busca Busca, seguranças verificam o tamanho de bolsas e lacram aquelas que consideram médias ou grandes, com o objetivo de evitar furtos. Mas nem medidas de segurança, fila interminável ou o empurra-empurra da multidão são capazes de fazer as pessoas desistirem de conhecer o local e buscar sua ‘oferta imperdível’.

Eu não tenho tanta disposição para filas, então ver a Busca Busca por dentro ficou para a próxima visita, quando as filas terminarem. Se é que as filas alimentadas pelo capitalismo selvagem vão acabar algum dia, ‘galela’.

Tudo indica que o Busca Busca Shopping vai transformar o movimento daqueles quarteirões por um bom tempo ainda.

Alex Ye, mas pode chamar de Chefe do Benefício, ‘galela’

A persona que dá suporte a essa imensa estrutura comercial formada por ecommerce e lojas físicas, através de conteúdos virais em plataformas como o Kwai, o Tik Tok e o Instagram, é Alex Ye, ou Chefe do Benefício, nome que ele adotou nas redes sociais. Apenas no Instagram, sua conta reúne mais de 12 milhões de seguidores.

É um belo exército de consumidores a ser mobilizado quando ele se lança a novos empreendimentos. Uma “galela” em busca de descontos e que se diverte com o carisma de Alex Ye ao falar português com o sotaque carregado que embola algumas palavras, mas se faz entender claramente no que de fato interessa e garante entregar: preço baixo e qualidade.

Nascido na China, chegou ao Brasil aos 10 anos de idade e com 19 anos começou sua vida de empreendedor ao abrir uma fábrica de roupas no Brás, em São Paulo. Mais tarde, a fábrica foi vendida e Alex se voltou para o mercado de importação. O resto é história. A história alucinante do comércio em tempos de internet.

Maria D'Arc é jornalista