Minha avó fazia colchas de retalhos à mão. Imagine você, emendar pequenos retalhos um a um, costurando com agulha e dedal, até formar uma colcha de casal ou solteiro. É um trampo de respeito.
O ofício de juntar os retalhos foi aprimorado por minha mãe, à maquina, formando desenhos geométricos mais arrumadinhos, que hoje em dia é mais chique chamar de patchwork , então que seja. Ela tem orgulho delas e gosta de presentear algumas pessoas com as colchas e almofadas que costura. É a sua arte.
Está aí se perguntando por que cargas d’água estou falando de colchas de retalhos com um título sobre leitura, né minha filha? Vamos lá, rs
Nos últimos dias está rolando uma daquelas correntes boas no Facebook na qual um amigo te desafia a publicar capas de livros que você ama, por sete dias. Apenas capas, sem críticas nem nada.
Fui desafiada – não sou muito de participar, mas livros é difícil resistir – e passei a convocar outros amigos.
E “minha mente nem sempre tão lúcida”, como diz a letra da música linda da Charlie Brown Jr., começou a observar como é possível reconhecê-los pelos livros que publicam.
A amiga aventureira vem com as leituras sobre montanhismo, regatas, trilhas, etc. A garota mais roqueira não resiste às biografias de bandas e ídolos do rock nacional e internacional. Há também os que preferem embarcam em um bom romance pra tirar uma folga da realidade.
Tem aqueles que são mais filosóficos e eu bem sei disso, após tantas horas de boas conversas com eles, aprendendo e, espero, ensinando; numa troca maravilhosa com assuntos e reflexões que só as boas leituras nos trazem.
Cada capa um pequeno retalho das buscas que eu e eles fomos empreendendo pela vida. Um encanto de resumo de quem somos, feito com capas de livros.
Nesse patchwork de leituras até retalhos puídos têm valor
Penso que essas leituras vão construindo e aprimorando nosso pensar assim como a costureira vai formando a colcha de retalhos. Têm pedaços coloridos, outros mais escuros e com passar do tempo é possível encontrar retalhos puídos, se desfazendo, porque alguns se desgastam mais cedo que outros.
Os retalhos puídos seriam como os livros que já lemos, em alguma época, por obrigação ou porque representavam parte do que éramos naquele momento e já não somos mais.
Isso não significa que eles – os puídos – deixem de ter importância, que devam ser trocados. Melhor deixá-los lá, servindo de suporte aos retalhos do seu entorno. Já tiveram seu valor em nossa trajetória de crescimento pessoal. Vocês eu não sei, mas sou apegada demais aos meus livros. Tenho que trabalhar isso e aprender a deixá-los ir.
Nesse enredo meio confuso da dúvida se somos o que lemos ou se lemos o que somos, concluo que isso não tem a menor importância. Desde que a gente não deixe de coser no capricho cada retalho de aprendizado que os nossos livros preferidos nos trouxerem.
Passados já 24 anos que minha avó Luiza partiu, eu ainda guardo como tesouro precioso a última colcha de retalhos que ela fez à mão. O aconchego perfeito para as minhas leituras em dias de frio do clima ou da alma.
0 Comentários