Encontros improváveis

Silhueta de uma pessoa, a noite, simula tocar a Lua

Esse mundo é muito, muito grande, comparado à nossa condição de indivíduo. Digo isso pensando na variedade de modos de vidas humanas, que ocupam o planetinha azul. Com suas rotinas, seus conhecimentos específicos, sua inquietação ou tranquilidade em existir.

Talvez você tenha visto, talvez não, mas no sábado, 22 de maio, durante uma ultramaratona na China, 21 atletas morreram de hipotermia, porque foram surpreendidos por uma queda brusca de temperatura e chuva de granizo.

Desprevenidos, durante o percurso extremo de 100 quilômetros, há quase 3.000 metros de altura, não havia muito o que fazer. Vai entender a necessidade de se colocar à prova, em uma missão dessas né? Mas cada qual com sua ideia e sua escolha.

E, apesar do pesar, pelas vidas perdidas, o ponto aqui é mais sobre meia dúzia de atletas que foram salvos por um pastor de ovelhas.

Conhecedor da região e da possibilidade de eventos climáticos perigosos, como o ocorrido, se apresentarem sem aviso prévio, Zhu Keming mantém um abrigo em uma pequena caverna. Lá, ele deixa cobertas, roupas e alimentos. Porque ele sabe que na Floresta Montanhosa do Rio Amarelo nada está garantido.

Quando viu o tempo virar, o pastor prevenido buscou abrigo em sua caverna, mas, ao ouvir pedidos de socorro, se arriscou lá fora e acabou levando seis atletas para seu pequeno ninho nas pedras.

A jornalista dentro de mim fica doida pra ir conhecer a caverna, saber quais são os alimentos que Zhu guarda por lá (sou do signo de Touro, ok? comida importa muito, rs). Queria descobrir como foi que ele aprendeu tais rotinas. Quais perrengues o ajudaram a desenvolver ainda mais seus conhecimentos e porque se arriscou lá fora do abrigo para salvar desconhecidos.

A China é longe, não falo chinês e só o risco da queda brusca de temperatura já faz minha rinite dar as caras. Vou ficar por aqui, mas com um toque de felicidade nesses dias sombrios. Um toque de fé no ser humano, sobrepondo-se à tristeza da perda de vida dos atletas e de tantas outras vidas.

E sei que essa felicidade me chega apenas porque as pessoas são únicas em seu modo de viver. Zhu, apesar de tão distante, cumprindo sua rotina de pastor, impactou minha vida, com seu ato de amor ao próximo. 

Pois é, “somos seres vibrando força e beleza cósmica; mundos estranhos em movimento que de repente podem se tocar, na dança da precisão do acaso…”

O cearense Sérgio Sá tinha muita razão em sua canção “Amigo Desconhecido”; uma das coisas boas de ouvir no começo dos anos 80. Não conhece? Dá um Google e escuta aí. Você vai gostar.

Mulher, sorridente, com batom vermelho, cabelos grisalhos e usando óculos
Maria D´Arc Hoyer é jornalista


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