Vacina para libertar sonhos engavetados


Pai abraçado ao filho, na rua, ambos usando máscara e agasalhos para frio
O fotógrafo Antonio Basílio com  o filho André João D'Amato Silva, em uma das raras saídas de casa, em Salford

O último dia 29 de abril entrou para história do fotógrafo Antonio Basílio. Aos 49 anos, ele recebeu a primeira dose da vacina contra Covid-19. A imunização foi feita com a vacina da AstraZeneca e a segunda dose será dentro de 8 semanas.

Basílio mora em Salford, na grande Manchester, Inglaterra, há quase três anos. Ele se mudou com a família em busca de crescimento pessoal, profissional e aprimorar o Inglês.

Mas há mais de um ano passa os dias dentro de casa e, nesse período, até já perdeu o posto de trabalho que tinha em uma grande farmácia. Com isso, foi inevitável engavetar os sonhos de aprimorar o inglês e conseguir trabalho na área de fotografia, sua paixão e profissão.

A imunização é a primeira luz no fim do túnel deste longo período de restrições rigorosas, mantidas com fiscalização firme, para evitar aglomerações e a transmissão do coronavírus.

Quando falou com R.U. em maio de 2020, Basílio e sua família estavam há 40 dias sem sair de casa. Na época contou que só era permitido ir às ruas para comprar alimentos e remédios, mantendo dois metros de distância de outras pessoas. Quem desrespeitava as regras podia ser multado e até preso.

Mesmo assim, Basílio diz que há pessoas que quebram as regras. Ser humano é igual por toda parte.

Os 40 dias viraram meses e a esperança por dias melhores precisou ser bem alimentada para não sucumbir. 
No total ele e a família amargaram reclusão por 8 longos meses, de março a dezembro de 2020, em isolamento social. Mesmo sendo um período de temperaturas mais amenas na Inglaterra.

Na primavera, de março a junho, as temperaturas ficam em torno de uns 15 graus e no verão, de junho a agosto podem passar um pouquinho dos 20 graus. Pois é, isso é calor para os ingleses.


Campo de margaridas, a beira de uma estrada, onde se vê a frente de um ônibus entrando em quadro
Margaridas à beira de rodovia, em Pendleton, subúrbio de Salford

Apesar da baixa temperatura de verão, os dias bem longos, com pôr do sol em torno de 21 horas, compensam um pouquinho.

“Quando chegamos aqui, a gente não entendia porque todos os locais abertos ficavam cheios de pessoas aproveitando o sol. Mas tem que aproveitar mesmo, porque dura pouco. Os brasileiros são abençoados nisso.”


Esperança em dias melhores

Com o verão batendo à porta e imunizado, Basílio vê a esperança em cada passeio que faz pela cidade, com todos os protocolos de segurança.

“Passamos semanas inteira em casa. Sentimos falta de coisas simples como ir a rua comer “fish and chips” (peixe frito com batata frita), prato típico no Reino Unido”, conta. Bares e pubs foram liberados para funcionar há cerca de um mês.

Basílio perdeu uma prima no Brasil e uma amiga na Inglaterra, com a Covid-19 e sente muito que a vacina não tenha chegado a tempo para elas.

“Minha prima era a primeira neta dos meus avós e nossa amiga, que conhecemos aqui, era uma pessoa muito alegre. Vão fazer muita falta. A gente não imaginava que a doença era tão implacável, mesmo com todos os cuidados impostos aqui.”

“Meus pais já tomaram as duas doses da vacina no Brasil e isso me tranquilizou um pouco, mas as notícias que vem daí, sempre preocupam. Incomoda não ver os políticos trabalharem para resolver as coisas.”

Com tempo para pensar na vida, cuidar da saúde virou prioridade para Basílio e sua família. Ele diz que passaram a escolher alimentos mais saudáveis, tomam própolis com frequência e não abrem mão de usar máscara quando saem de casa.

Flores dente de leão na frente de raio de sol entre nuvens
Dentes de leão iluminados por raio de sol, em Pendleton, subúrbio de Salford

Agora ele se prepara para voltar a curtir cada raio de sol que aparecer na gelada Inglaterra nos próximos meses. E nós ficamos na torcida para que ele possa retomar seus projetos e seguir com vida plena, como todos merecem.

Mulher, de cabelos grisalhos, usando óculos de armação vermelha
Maria D´Arc Hoyer é jornalista


Fotos: Antonio Basílio / @abasiliofoto

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