16 de agosto: início da temporada de jingles políticos irritantes

Ilustração: M.D´Arc com elementos do Canva 

A música do caminhão de gás tem concorrência a partir de amanhã, 16 de agosto, quando fica liberada a propaganda política, inclusive por meio de alto falantes, das 8 às 22 horas. Haja paciência.

E olha que eu sou uma daquelas pessoas que curtem, de verdade, o embate político. Embate das ideias, que fique bem claro. Porque o que se tem visto de barbárie virtual e física não é de Deus. Embora, inacreditavelmente, existam pessoas que acreditam estar em uma guerra santa, mas isso é outra conversa.

Voltando aos alto-falantes, chegou a temporada de ter a soneca do bebê, a conversa ao telefone e a novela interrompidas pela gritaria nas ruas. E as letras desses jingles, minha gente? Quem os escreve? Pior, quem os aprova?

Sem pudor, os criadores desses vetores de dor de ouvido ambulantes utilizam, muitas vezes, melodias de sucessos ‘chiclete’ que a gente acaba cantarolando enquanto passa pano no chão da casa, distraída com a faxina. Que raiva!

Mas quando isso acontece é porque o jingle atingiu o objetivo. Cravou o principal conceito do candidato, seu nome e número na cabeça do desavisado. Não se engane; a irritante música vai se intrometer na sua memória, brigando até mesmo com sua escolha mais consciente, quando você estiver diante da urna. A repetição de um jingle é uma arma poderosa.

Vassoura, pra que te quero

A popularização dos jingles se deu com o maior acesso da população ao rádio, lá por volta da década de 1930. Candidatos a presidente, Júlio Prestes e Getúlio Vargas foram pioneiros do recurso. E desde então, os jingles viraram as estrelas sonoras das campanhas. Mas, a meu ver, tinham letras melhores, com mais conteúdo. Quem, minimamente informado sobre política, não conhece o jingle de Jânio Quadros? Varre, varre vassorinha, varre, varre a bandalheira...

É, a corrupção, ou bandalheira, como você preferir, serve de escada política para candidatos há muito tempo. Talvez seja por isso que não acaba, assim como a seca do nordeste. Se o político der fim às dores dos eleitores não vai ter promessa vazia para oferecer e o jeito vai ser trabalhar para melhorar infraestrutura, serviços públicos, educação. Vixe, fica complicado.

O fim da corrupção, o fim da seca, o fim dos privilégios políticos, são as cenouras na ponta da vara que uma boa parte dos eleitores persegue em vão há muito tempo. Quem sabe, talvez as campanhas tragicômicas de alguns candidatos nos horários gratuitos de rádio e televisão e os jingles irritantes sejam feitos para que os eleitores se distraiam da seriedade de uma eleição política. 

O que é demais, enjoa

A maioria dos jingles atuais têm argumentos fracos, ecoando a superficialidade de grande parte das discussões nas redes sociais. Quando os últimos dias da campanha se aproximam, pode piorar. Algumas dessas músicas são alteradas para gravar ainda mais do número do candidato na cabeça dos eleitores. A tortura numérica segue, rua acima e rua abaixo, dando voltas nos quarteirões, aproveitando cada segundo do horário permitido.

As eleições de 2022 são para deputado estadual, deputado federal, senador, governador e presidente da República. A área de busca de votos para estes cargos é mais abrangente. Todos os recursos possíveis que levem o candidato aonde ele não pode estar pessoalmente são necessários. Ok, isso a gente entende.

Mas estabeleci como critério pessoal não votar em candidatos que exageram nesse recurso do carro de som. Acho invasivo, desrespeitoso e irritante. E se, além da exposição exagerada o jingle é ruim e o candidato aprovou, já está dizendo a que veio.

Candidato precisa - ou deveria sempre - ter consistência de ideias. Se reunir com seus possíveis eleitores, na rua, na chuva, na fazenda, na feira, na barraca de pastel, nas praças dos centros das cidades. Tem que bater pernas, apertar mãos, olhar nos olhos das pessoas. Nem tanto para vê-las, mas, principalmente, para ser visto e expor seu compromisso. É essencial ter compromisso. Real. 

Se já é candidato, conta o que fez. Se está estreando, estuda pra saber o que pode ser feito, de fato, na função que está buscando. Apesar do fla-flu reinante, tem muita gente cada dia mais ligado no que os aspirantes a representantes do povo têm a dizer, antes de fazer a escolha. Respeitar a paz e a inteligência dos eleitores é um bom começo.

Maria D´Arc é jornalista


 

 

 

Postar um comentário

0 Comentários