Contra a xenofobia, faça amor com as palavras

A palavra love formada por blocos de madeira
Foto: Canva

Há poucos dias vi uma amiga mineira declarando sua naturalidade no facebook e pedindo aos incomodados, xenófobos, que se desligassem do perfil dela na rede social.

Eu entendo o sentimento, nordestina que sou, habituada a respirar fundo para não devolver esse tipo de ofensa na mesma moeda dos ignorantes, movida pelo desgosto momentâneo. É importante que seja momentâneo, passageiro. Porque esse tipo de agressão deve ser jogada fora, pra longe da gente e rápido. Um navio não afunda porque há água em volta dele. Um navio só afunda se deixar a água entrar.

Não dá pra levar em consideração criaturas sem argumento que, tentando se desfazer da própria amargura, atacam pessoas apenas por terem nascido em outro estado, país ou planeta. Não é exagero. Neste caso, temos que ser solidários até com o ET de Varginha.

Hoje, dia 8 de outubro, é o Dia do Nordestino. E, ainda mais por conta dos ataques que as pessoas de origem nordestina vêm sofrendo, os posts de homenagem pulularam nas redes sociais e até compartilhei uns stories poéticos sobre o tema. Mas, depois, fiquei pensando que isso tem lá sua cota de absurdo. Sou nordestina, com muito orgulho sim, mas somos todos brasileiros, debaixo do mesmo céu, respirando o mesmo ar.

O Brasil é uma colcha de retalhos maravilhosa e aconchegante, com costumes diferentes, culinárias diferentes, ecossistemas diferentes. Um mundo vasto de sabores, águas cristalinas doces e salgadas, relevos, ritmos que embalam a alegria e o amor, sotaques que fazem carinho aos ouvidos.

Tenho pra mim que uma pessoa que destila xenofobia, o veneno do preconceito, não tem sensibilidade para aproveitar uma praia de águas mornas, curtir o sabor de uma moqueca de peixe, de um prato de camarão do nordeste. Como também não sabe aguçar o olfato para sentir o inigualável cheiro de pão de queijo saindo do forno, antevendo o instante de agradar o paladar, enquanto descansa a vista nas curvas sensuais das montanhas mineiras, sedutoras em um tom de azul indefinido. Certamente, o aroma de um churrasco de chão, tradição gaúcha, que faz a gente salivar, mesmo sem querer, também não toca o coração de um xenófobo.

Mesmo um livro não daria conta de falar sobre tanta beleza contida nas diferenças do nosso país continental. Beleza que os xenófobos não enxergam. Então, não perca tempo respondendo bobagens. Não gaste dedo, saliva e bom senso tentando convencê-los. Não se desgaste para insultá-los.

É a luz que espanta a escuridão

Mas não também não se omita. Denuncie o perfil do agressor à rede social. Oculte o comentário ou o post, se puder. Deixe claro que você não quer ver esse tipo de postagem. Não dê palanque, não dê ibope, não comente. Quem pratica xenofobia, preconceito de classe, raça, religião, seja o que for, não está pronto para conversa nenhuma. Lembra do navio? Se essa for a escolha deles, deixe que afundem sozinhos em seu mar de amargura.

Faça ainda melhor. Para cada post e comentário xenófobo, busque algo que te dá orgulho em sua terra natal em seu modo de viver e ser feliz do jeito que dá. Seja culinária, literatura, dança, natureza, flores, sorrisos e capriche no post. Ao escrever, faça amor com as palavras; isso enlouquece os azedos. É acendendo a luz que se espanta a escuridão.

E tente - ou melhor, consiga - não aliar isso à política. Porque isso tem a ver apenas com caráter. Não depende de ser ou não alfabetizado. De ter ou não um curso superior. Xenofobia é uma falha moral.

Somos um só país. Todos temos o direito de ficar ou ir para onde nos der na telha, queiram os amargos ou não. E se você é de fato cristão, um dos mandamentos mais importantes é: amar o próximo como a ti mesmo. Mas você pode fazer uma oração pelo ‘próximo’ enquanto o bloqueia na rede social. Com certeza, Deus vai te perdoar por isso.

Mulher, grisalha, usando óculos
Maria D´Arc é jornalista
Foto: Lucas Lacaz




 

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