Maio chega ao fim e nas regiões sul e sudeste o inverno vai ficando mais intenso. As temperaturas vão despencando a cada frente fria e criando as ocasiões ainda mais perfeitas para os amantes de café praticamente se afogarem no sabor revigorante. Quem ama café ignora solenemente as pesquisas que determinam quantidades seguras em milímetros para o consumo da bebida.
Assim, a data de 24 de maio é bem adequada para ser o Dia Nacional do Café. Criada em 2005 pela Associação Brasileira da Indústria de Café, a Abic, é uma oportunidade a mais para produtores e comerciantes incentivarem o consumo.
Mas ultimamente surgiu um problema: o preço do café está nas alturas. Segundo o IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística -, apenas no primeiro trimestre de 2025 a alta do café já passava da casa dos 30%. Onde isso vai parar, só Deus sabe. Até porque as questões climáticas são parte significativa do impacto nas safra, não apenas no Brasil.
Segundo a Abic, o maior consumidor de café do mundo são os EUA. O Brasil é o segundo e segue crescendo. E aí vem um segundo problema, daqueles problemas cabeludos. Nas prateleiras dos supermercados um intruso disfarçado de café acena para o consumidor com seu preço convidativo. É isso mesmo. Depois de despejarem nas prateleiras mistura de leite, composta por soro e gordura vegetal, para “substituir” o creme de leite e uma leva de chocolates e biscoitos que agora levam a indicação ‘sabor chocolate’ por que não atingem a quantidade de cacau necessária para ser chamado de chocolate mesmo, chegamos a era da bebida “sabor café”, popularmente conhecida também como café fake.
Pois é, você nunca imaginou tomar um café da manhã fake, não é? Nem eu. Para evitar isso agora é preciso acionar o modo mindfulness para fazer aquela compra básica no supermercado, que antes a gente podia fazer no piloto automático, com fones de ouvido, curtindo uma música. Em vez disso, coloque os óculos e preste atenção para não levar gato por lebre só porque o preço é mais baixo. O pó sabor café custa mais ou menos um terço do café normal, que já nem é lá essas coisas, mas pelo menos deve ser obtido a partir do grão de café. As embalagens do café fake são feitas com todo o potencial para induzir ao engano o pobre consumidor.
Pelas notícias por aí, o proprio Ministério da Agricultura ainda não saberia ao certo o que leva essa mistura sabor café. O tal pó tem pouco ou nada de café, mas pode ter galhos, folhas, milho, casca de café, aromatizantes e sabe-se-lá o que mais. E com aromatizantes, ou seja produtos químicos, o cafezinho nosso de cada dia, na modalidade fake, torna-se um alimento ultraprocessado, que já é outra história.
Precisava mesmo disso? Tudo deveria ter limite e mexer com o café tinha que ser questão para prisão perpétua. Se a criatura capaz disso não estiver solta por aí não poderá moer galhos e folhas secas e vender como café pra ninguém.
Melhor ir logo providenciando uma lupa para avaliar de perto os produtos nas prateleiras do supermercado. Um ditado no mercado, de tempos passados que agora me parecem longínquos, dizia que o consumidor sempre tem razão. Essa razão deve ser o direito sagrado de engolir café fake calado e um docinho coberto por um creme culinário que, no máximo tem soro de leite.
O café fake já marca presença nas prateleiras faz algum tempo, mas a alta exorbitante de preços coloca essa pegadinha de consumo ainda mais evidente e preocupante. Comer e beber com um mínimo de dignidade é cada vez mais difícil e custa cada dia mais. As decisões de produção, do campo até a indústria - com raríssimas exceções - não leva em consideração a saúde de ninguém. Basta atender as regras de níveis aceitáveis de porcarias agregadas aos produtos. Se está na lei, tudo certo.
O mercado é o mercado, que se há de fazer. Com ou sem razão de consumidor, podemos muito pouco. Mas daí a fazer as embalagens dos produtos ‘fake’ tão similares aos produtos mais verdadeiros é muita falta de respeito. Essa palavrinha, respeito, tão preciosa, vem perdendo cada vez a importância em nossa sociedade. Uma pena.
0 Comentários