O melhor do Brasil é mesmo o brasileiro

 

Homem em cima de árvore, colhendo abacates

É grande a quantidade de árvores frutíferas no bairro onde moro. Após a caminhada matinal, já voltei para casa com manga, pitanga e até jaca. Sim, são vários pés de jaca pelas ruas; bom motivo para atravessar a rua e não passar debaixo deles. Alguns corajosos estacionam seus carros à sombra das jaqueiras sem atentar ao risco.

Os abacateiros também preocupam. Muito altos, quando a fruta desce é melhor que não acerte a cabeça de alguém. Uma amiga conta que isso já ocorreu na sua vizinhança. Uma moça desmaiou na calçada atingida por um abacate.

Antes que alguém venha defender a retirada das árvores frutíferas das ruas, aviso logo que eu discordo. Melhor colocar avisos, indicar rotas alternativas e deixá-las frutificar em paz, alimentando as abelhas na florada e os pássaros e morcegos com as frutas. E essa semana descobri que as frutíferas das praças não alimentam apenas os insetos e pássaros.

Quando passeava com o cachorro, de manhã bem cedo, escutei um farfalhar de folhas e um abacate despencou a pouca distância de mim, mesmo sem vento algum. Curiosa que sou, fui observar mais de perto e eis que, encarapitado em cima da árvore, muito em cima mesmo, lá nos galhos mais altos, vejo um rapaz, colhendo as frutas e colocando-as em um saco.

Claro que puxei conversa: — Rapaz do céu, o que você tá fazendo aí em cima (embora fosse óbvio)?

— Estou pegando abacate, responde rindo.

Como alguém consegue rir, escanchado no topo de uma árvore, a uns doze metros do chão, num frio de 15 graus, em meio à neblina, eu não sei.

Perguntei, então: — Você colhe pra vender? É perigoso subir tão alto.

— É, eu vendo sim. Tem perigo não. Já ‘faz’ oito anos que faço isso. Minha esposa tá ali no carro, se quiser abacate pode pegar lá com ela, — me ofereceu gentilmente. De fato, havia estacionado ali perto um carro que já viu dias melhores, mas que, certamente, faz toda diferença na vida do casal. Quando o saco está cheio de abacates ele o desce amarrado a uma corda e a esposa recolhe em baixo. 

Agradeci a oferta e encerrei a conversa, com receio de tirar demais a concentração dele da atividade arriscada que empreendia. Uma queda daquela altura pode acabar muito mal.

Pensando sobre o casal e seu modo de reforçar o orçamento, não pude evitar de pensar em como os brasileiros da base da pirâmide social são incríveis demais. Diante de tanta bandalheira a assolar o país, foi um prazer conhecer o rapaz que escala árvores em praças para colher frutas e vender, de forma honesta e corajosa.

Mulher de cabelos grisalhos, usando óculos e sorrindo
Maria D'Arc é jornalista

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