O pé de vento e o Saci Pererê foi publicada em 31 de outubro de 2021 e é uma das crônicas mais acessadas aqui do Recortes Urbanos. Podem ser apenas crianças em pesquisa escolar, mas é possível que sejam apenas pessoas curiosas com a beleza da fantasia. Eu, neta de pessoas incríveis que viveram numa época em que era normal crer no que há de encantado na vida, torço para que aqueles em busca de fantasia sejam a maioria. Pois criança, apesar de tantas telas, ainda é mais suscetível à magia. Os adultos são mais necessitados de encantos.
Nessa data é difícil fugir de tanta informação sobre magia, fantasia e encanto e, então, me dá vontade de falar sobre isso também.
A definição da palavra “encantar”, que aliás é linda, significa, de acordo com o dicionário Aurélio (de papel mesmo), "lançar encantamento ou magia sobre, enfeitiçar; transformar um ser em outro por artes mágicas; ou significa ainda Seduzir, cativar". Ou seja, só coisa boa. Motivo pelo qual não posso entender as pessoas que brigam contra essa comemoração, seja o Dia das Bruxas ou do Saci Pererê. Ambos remetem ao encanto, ao riso e, por que não, à desconstrução do medo, esse sim, uma coisa assustadora sob qualquer aspecto.
E como o assunto costuma ter visibilidade, vamos lembrar aqui (de forma resumida porque o assunto é bem amplo) as origens dessa data que divide opiniões, mas promove muita festa.
Embora não existam, até onde se sabe, registros escritos sobre ao Halloween, a tradicional festa teria chegado aos EUA por meio de imigrantes Irlandeses, ainda no século XIX. De lá, popularmente conhecido como Dia das Bruxas, a comemoração se espalhou pelo mundo e o Brasil não ficou de fora.
Os celtas e a celebração que deu origem ao Hallowen
Mas a origem dessa celebração é bem mais antiga. Acredita-se que tudo começou com os celtas, povos que habitavam, entre outras áreas da Europa, as regiões onde hoje estão a Irlanda, Escócia e País de Gales. Chamada de Samhain, eles acreditavam que nessa festa, ocorrida durante a noite do dia primeiro de novembro, a separação entre os mundos de vivos e mortos deixava de existir.
Apesar do sentido místico, a celebração marcava também o fim do período de verão e o início de um novo ano. Com isso, os celtas faziam uma grande festa, na qual havia muitas fogueiras com o objetivo de manter a luz e manter os mortos afastados. Mas uma grande quantidade de alimentos era preparada e servida, em homenagem aos mortos e em agradecimento pelas colheitas que os manteria durante o inverno que se aproximava.
As mudanças ocorridas durante a doutrinação dos celtas ao cristianismo teriam ocorrido gradativamente ao longo de muitas décadas, mas fato é que no século VIII o Papa Gregório III definiu a data de 1° de novembro para a Festa de Todos os Santos, aparentemente para alinhar com a celebração originariamente celta que já ocorria na Inglaterra.
Nesse ajusta de lá e remexe de cá para acomodar crenças e doutrinações, chegamos hoje ao nome Halloween, que teria derivado de All Hallow’s Eve, ou véspera do Dia de Todos os Santos, que por sua vez é véspera do Dia de Finados.
Uma curiosidade é que, possivelmente nessa época, ocorria o que deu origem ao famoso “doces ou travessuras”, que as crianças promovem no Dia das Bruxas, nos Estados Unidos, hoje em dia. A pura diversão de hoje, pode ter sido a necessidade real de arranjar comida durante a Idade Média. Na véspera do Dia de Todos os Santos as pessoas, adultos e crianças, iam de casa em casa pedindo bolo e outros alimentos e, em troca, ofereciam orações pelos mortos daquela família.
Mas e o Saci Pererê? Ok, vamos lá.
Não por acaso a lei 2.479/2013, da Comissão de Educação e Cultura da Câmara dos Deputados, estabeleceu o dia 31 de outubro como “Dia do Saci”. Um trecho da justificativa do projeto diz: “A escolha do dia 31 de outubro, quando é comemorado o Halloween (Dia das Bruxas) nos Estados Unidos, festa que a cada ano atrai mais crianças brasileiras, é proposital. [...] A intenção desse projeto é ensinar às crianças que o país também tem seus mitos, difundindo a tradição oral, a cultura popular e o infantil, os mitos e as lendas brasileiras.” O Estado de São Paulo também já havia oficializado o Dia do Saci, através da lei estadual 11.669, em 2004.
A ideia, como fica claro, é a valorização do folclore brasileiro e não tem como isso ser ruim, mas, como visto acima, o nosso Saci vai ter que rodopiar muito para enfrentar tantos séculos de história da existência do Dia das Bruxas que o mundo todo conhece. Mas o importante é que a mágica já começou e algumas festas do Dia do Saci são realizadas por aí Brasil afora.
Se você é brasileiro, deve conhecer o Saci Pererê de outros carnavais, mas segue aí uma descrição desse personagem fabuloso. Ele é um ser místico, habitante das florestas. Um menino negro e com uma perna só, mas muito ligeiro, se desloca pegando caronas em rodamoinhos de vento. Usa um gorro vermelho, onde estaria sua magia, e tem o hábito de fumar cachimbo. Não se sabe se há apenas um Saci ou se seriam muitos deles, espalhados por aí, praticando sua atividade favorita: travessuras, que, até onde se sabe, ele não troca por doces. Entre as travessuras que ama estaria trançar as crinas dos cavalos e trocar os recipientes de sal e açucar para atrapalhar as cozinheiras. Diz-se que o Saci teria nascid de um broto de bambu, onde fica até completar sete anos, antes de sair pelo mundo aprontado suas peripécias.
Fontes consultadas: https://brasilescola.uol.com.br/datas-comemorativas/31-de-outubro-dia-do-saci.htm e https://www.todamateria.com.br/celtas/
 |
| Maria D'Arc é jornalista |
0 Comentários