Aghata Christie e a carreira literária vitoriosa, numa época de raras oportunidades para as mulheres

Dois livros de Aghata Christie, Os Relógios e Os Crimes ABC, sobre uma mesa de madeira.
Foto: Maria D'Arc

Não faço ideia de onde veio minha predileção por histórias policiais, mas, desde que sejam fictícias, é meu lazer preferido. Quando bem feitas - em roteiros ou livros - se tornam verdadeiras aulas de psicologia. Hoje em dia, sou uma consumidora ávida de séries sobre esse tema, no streaming, mas antes disso já me divertia com as tramas mirabolantes criadas por escritores de mistérios como Edgar Allan Poe, Arthur Conan Doyle e, a maior de todos (pelo menos em minha opinião), Agatha Christie.

Ao longo de sua vida (nasceu em 1890, em Torquay no Reino Unido e faleceu em 1976, em Winterbrook, Reino Unido). Seu nome de batismo é Aghata Mary Clarissa Miller; o sobrenome que tornou famoso, ela adotou de seu primeiro marido, Archibald Christie. Segundo o Guiness Book, a escritora vendeu mais de quatro bilhões de livros nos séculos XX e XXI,o que lhe dá o terceiro lugar em vendagem através dos tempos. Christie fica atrás apenas de William Shakespeare e da Bílblia.

Nada mal para a uma mulher nascida em época tão conservadora e que, dizem, escreveu o primeiro romance por ter apostado com a irmã, Madge, que seria capaz de escrever um romance policial publicável. Daquela aposta nasceu o “O misterioso caso de Styles” e, também, a carreira ímpar da escritora que passou a ser conhecida com a “Dama do Crime”.

Esse primeiro livro foi publicado em 1920, alguns poucos anos, após a aposta. Com livros traduzidos em mais de 100 idiomas, Aghata Christie é mais lembrada, ultimante, pela trama ‘Assassinato no Expresso Oriente” por ser presença recente nas telas de cinema. E olha que se trata de um livro publicado em 1° de janeiro de 1934, sendo o 19° romance que ela escreveu, em um universo em torno de uma centena de publicações. Adaptado pela primeira vez ao cinema em 1974, dirigido por Sidney Lumet e tendo Albert Finney como Hercule Poirot; o singular detetive Belga, personagem perfeccionista, cheio de manias e com uma auto-confiança inabalável, capaz de resolver qualquer mistério, a partir da observação dos fatos, do ambiente e do profundo conhecimento sobre as emoções humanas.

Aqui vamos destacar dois romances de Aghata Christie que mesmo não estando entre os mais lembrados, são, a meu ver, obras primas de tramas policiais pela complexidade de relações humanas que levam ao cometimento dos crimes.

Os crimes ABC

Escrito na década 1936, esse livro é uma das minhas tramas preferidas de Aghata Christie.

Uma série de crimes começam a ocorrer em pequenas cidades da Inglaterra. Aparentemente sem ligação entre si, a investigação aponta que os crimes ocorrem seguindo nomes em ordem alfabética. E para garantir que essa ligação seja feita, o assassino deixa junto aos corpos um guia ferroviário que se chama “ABC”. O guia de fato existiu no Reino Unido, sendo publicado mensalmente a partir de 1853 para divulgar os horários ferroviários. Esse guia não foi o único a prestar esse serviço, mas foi o que acabou eternizado na trama da escritora.

Voltando ao livro, Alice Ascher foi morta em Andover; Betty Barnard, em Bexhill e Si Carmichael Clarke, em Churston. Crimes suficientes para colocar a população em polvorosa com o serial killer à solta.

Paralelo a esse terror, o detetive Hercule Poirot, que vive uma fase na qual tenta permanecer aposentado, passa a receber cartas do criminoso informando que vai realizar tais crimes. Inicialmente, Poirot e seu grande amigo Capitão Hastings pensam tratar-se de um trote de mau gosto, mas então a série de assassinatos toma conta dos jornais.

Definitivamente envolvido na investigação, Poirot se entrega à sua atividade favorita que é o exercício das ‘células cinzentas’. No final com surpreendente reviravolta, o detetive expõe todo seu conhecimento das vilanias e fraquezas humanas. Aghata Christie, de forma brilhante, aborda a xenofobia e isso nos lembra que, apesar de escancarada demais hoje, esse sentimento hediondo sempre esteve por aí.

Os Relógios - Aventura com Hercule Poirot

Esse livro desde o início transporta o leitor em uma viagem no tempo. O prólogo já apresenta o cenário de época onde escritório de secretárias e datilografia ofereciam serviços em domicílio; quando pessoas contratavem estenógrafas que iam às suas casas, anotar textos que, depois, eram transcritos à máquina de escrever.

Sheila Webb trabalha nesse escritório e ao atender o chamado de um cliente deficiente visual, descobre na casa dela o corpo de um homem. A partir daí a trama envolve também o agente secreto Colin Lamb, que, em visita ao local, acaba participando da investigação. Outros dois crimes que podem ter relação com a morte do desconhecido amplia a complexidade do caso e leva Colin a desafira seu velho amigo Hercule Poirot a resolver o mistério. Mesmo sem ir ao local e se inteirando do caso por meio das informações, por escrito, que Colin lhe passa, o detetive conduz o agente secreto para a solução do caso e também o leva a tomar ter clareza dos próprios sentimentos em relação e estenógrafa envovida na trama.

Os livros podem ser encontrados facilmente na internet, novos ou usados. E se, como eu, você frenquenta sebos, não deixe de incluir um título da Dama do Crime em sua próxima compra.

Mulher grisalha, sorridente, usando óculos de armação preta
Maria D'Arc é jornalista


 

 

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