As Zonas Azuis e o segredo da longevidade: o que elas revelam sobre viver mais e melhor

Mesa posta com alimentos variados e mãos que quase se tocam formando um brinde com fatias de pizza.

Photo by Doğu Tuncer on Unsplash

Talvez a vida eterna não seja sua meta ou preocupação, mas ter uma existência longa e com saúde é o desejo de quase todos. É, inclusive, o que desejamos às pessoas em seus aniversários: vida longa e saúde. O modo de vida moderno, no entanto, nos leva com frequência aos limites da resistência dos nossos corpos. É complicado dar conta do trabalho, cumprir rotinas de casa, frequentar a academia diarimente, preparar alimentos saudáveis, ufa. Será mesmo esse o caminho para uma vida longeva e saudável?

A longevidade tem sido objeto de estudo de muitos cientistas e nessa jornada alguns conceitos existentes sobre o que fazer para ter vidas longas têm sido abalados. Isso ocorreu principalmente com a identificação do que foi popularizado como ‘zonas azuis’, locais no planeta onde há um número significativo de pessoas centenárias.

O termo zonas azuis foi criado por Dan Buettener, pesquisador e escritor norte-americano, que decidiu, há mais de duas décadas, viajar pelo mundo e conferir como vivem esses centenários, o que elas fazem de diferente do resto do mundo para terem saúde e viver tanto.

Para estabelecer o conceito das Blue Zones, zonas azuis, Buettner contou com a parceria de cientistas e demógrafos. Juntos eles identificaram cinco áreas com grande número de pessoas acima dos 90 ou 100 anos, gozando de considerável saúde e qualidade de vida. Nessas regiões, doenças crônicas como câncer, diabetes e problemas cardíacos são significativamente menos comuns do que na média mundial.

Onde estão localizadas as Zonas Azuis

As cinco Zonas Azuis conhecidas atualmente são:

Okinawa, JapãoLocalizada no extremo sul do Japão, Okinawa é famosa por abrigar algumas das maiores populações de centenários do mundo. Em especial, as mulheres têm a maior expectativa de vida do planeta, ultrapassando a média dos 90 anos de idade.

Sardenha, ItáliaNa região montanhosa da Sardenha, destaca-se o vilarejo de Ogliastra, com uma notável concentração de homens centenários. É a única zona azul onde os homens vivem tanto quanto as mulheres, algo incomum nas estatísticas globais.

Nicoya, Costa RicaA península de Nicoya destaca-se por seus habitantes ativos e por uma expectativa de vida média acima dos 85 anos. Por lá, muitos idosos continuam trabalhando, caminhando e socializando diariamente, mesmo após os 90.

Icária, Grécia“O lugar onde as pessoas esquecem de morrer”, assim é conhecida a ilha grega de Icária. Lá, a incidência de demência e doenças cardíacas é quase nula, e cerca de um terço da população chega aos 90 anos.

Loma Linda, Califórnia, EUADiferente das demais, essa zona azul está em um país altamente industrializado. Seus habitantes são majoritariamente adventistas do sétimo dia, que seguem um estilo de vida baseado em alimentação vegetal, espiritualidade e descanso semanal.

O que essas regiões têm em comum

Apesar das diferenças culturais e geográficas, as Zonas Azuis compartilham um conjunto de hábitos e valores que parecem ser os principais fatores da longevidade saudável. Estudos científicos destacam alguns pontos centrais:

1. Alimentação natural e equilibrada

A dieta é um dos pilares mais consistentes entre as Zonas Azuis. Em todas elas, prevalece o consumo de alimentos frescos e minimamente processados, com ênfase em vegetais, leguminosas, frutas, grãos integrais e gorduras boas.

  • Em Okinawa, o prato tradicional inclui batata-doce roxa, tofu e vegetais variados.
  • Na Sardenha, o destaque é o consumo moderado de vinho tinto, rico em antioxidantes, e de pão integral artesanal.
  • Em Icária, predomina a dieta mediterrânea, com azeite de oliva, ervas frescas e peixe.
  • Em Nicoya, feijão preto, milho e abóbora compõem a base da alimentação.
  • Em Loma Linda, muitos seguem uma dieta vegetariana estrita, evitando carnes e açúcares refinados.

Essa alimentação rica em fibras, antioxidantes e nutrientes essenciais reduz inflamações, equilibra o metabolismo e protege contra doenças crônicas — fatores diretamente ligados à longevidade saudável.

2. Movimento natural e cotidiano

Outro ponto-chave é que os moradores das Zonas Azuis não “malham” no sentido moderno — eles se movem naturalmente ao longo do dia. Caminham longas distâncias, trabalham na terra, cuidam de jardins e realizam tarefas físicas simples, mas constantes. O corpo está sempre em movimento, de forma leve e orgânica.

3. Propósito e sentido de vida

Em todas as regiões, há uma forte noção de propósito. Em Okinawa, chama-se Ikigai; em Nicoya, plan de vida. Esse senso de significado motiva as pessoas a acordar todos os dias com entusiasmo, o que, segundo estudos em psicologia positiva, está fortemente associado à saúde mental e longevidade.

4. Conexão social e comunidade

Não estar só e manter o laço social é outro fator determinante. As pessoas das Zonas Azuis mantêm relações comunitárias sólidas, convivem com a família e participam de atividades sociais e religiosas. A sensação de pertencimento reduz o estresse e promove bem-estar emocional, ambos essenciais para envelhecer bem.

5. Baixo nível de estresse e ritmo equilibrado

Nessas comunidades, o tempo é vivido de forma mais lenta e presente. O descanso e o sono são valorizados. Em Icária, é comum o hábito da sesta; em Loma Linda, o sábado é reservado ao repouso espiritual. Essa gestão natural do estresse contribui para manter o corpo e a mente em harmonia.

A ciência por trás da longevidade

Pesquisas publicadas em revistas como The Lancet e National Geographic Explorer reforçam que longevidade não é apenas genética — estima-se que até 90% da expectativa de vida esteja relacionada ao estilo de vida. Ou seja, o modo como se come, dorme, trabalha e se relaciona tem impacto profundo na saúde e no envelhecimento.

Estudos com moradores das Zonas Azuis apontam que seus marcadores biológicos — como pressão arterial, colesterol e níveis de inflamação — permanecem estáveis por décadas, o que ajuda a explicar por que essas populações envelhecem com vitalidade.

Curiosidades sobre os mais longevos do mundo

  • Kane Tanaka, japonesa de Fukuoka (não em Okinawa, mas dentro da cultura japonesa), viveu até os 119 anos, tornando-se a mulher mais velha registrada.
  • Na Sardenha, há vilarejos onde a taxa de centenários é dez vezes maior que a média europeia.
  • Em Icária, quase ninguém sofre de Alzheimer, mesmo entre os idosos com mais de 95 anos.
  • A água em Nicoya é rica em cálcio e magnésio, o que fortalece ossos e reduz doenças cardíacas.
  • Em Loma Linda, muitos dos moradores acima dos 90 anos ainda dirigem e fazem trabalho voluntário regularmente.

Exemplos assim reforçam que viver muito pode significar também viver bem.

Como aplicar os princípios das Zonas Azuis na vida urbana

Mesmo para quem vive em grandes cidades, é possível adaptar hábitos inspirados nessas regiões que podem ajudar a promover uma longevidade saudável. Confira a seguir cinco dicas práticas:

1. Coma mais alimentos naturais e de origem vegetal
Priorize frutas, verduras, legumes, grãos integrais e leguminosas. Reduza o consumo de carne vermelha, frituras e produtos ultraprocessados. Pequenas mudanças diárias transformam a saúde a longo prazo.

2. Mantenha o corpo em movimento constante
Caminhe mais, suba escadas, cuide de plantas, faça pequenas pausas ativas durante o trabalho. O movimento leve e contínuo é mais sustentável que treinos intensos e esporádicos.

3. Cultive propósito e gratidão
Reflita sobre o que dá sentido à sua vida. Ter objetivos e manter uma atitude positiva reduz o estresse e fortalece o sistema imunológico.

4. Valorize suas relações pessoais
Reserve tempo para estar com a família e amigos. Participar de comunidades, clubes ou grupos de interesse cria conexões que contribuem para aumentar a felicidade e a longevidade.

5. Desacelere e cuide do sono
Estabeleça momentos de pausa, evite excessos de trabalho e priorize uma boa noite de descanso. O equilíbrio é o segredo para preservar energia e vitalidade.

Viva mais e melhor, onde quer que esteja

As Zonas Azuis indicam que viver muito não depende de sorte, mas de escolhas diárias. Alimentação equilibrada, movimento natural, propósito, relações humanas e descanso são os pilares universais de uma vida longa e feliz.

Mesmo em meio ao ritmo acelerado das cidades, é possível adotar hábitos inspirados nesses lugares extraordinários. Comece hoje incluindo pequenas mudanças no seu dia a dia — uma refeição mais natural, uma caminhada a pé, um jantar em família sem celular.

Se quiser conhecer mais sobre as zonas azuis assista ao documentário de Dan Buettner, Como Viver até os 100: Os Segredos das Zonas Azuis, disponível na Netflix.

A longevidade saudável começa com o primeiro passo. Que tal dar o seu agora?

Mulher grisalha, sorridente, usando óculos de armação preta.
Maria D'Arc é jornalista


 

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