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| Reprodução: Instagram/loborgesoficial | 
Clube da Esquina n° 2 é uma das minhas músicas preferidas na vida. E não dá pra dizer que é a preferida entre todas, porque é muito difícil escolher entre tantas belas canções que Lô Borges nos deu, juntamente com seus colegas de esquina, como Fernando Brant, que partiu há dez anos, e Bituca. Não posso pensar em legado maior do que tamanha produção poética. Eu sei que faltam diversos nomes nessa lista, mas se você está curtindo o texto, também sabe quem são e, certamente, pode até cantarolar suas músicas.
Quero estar onde estão os sonhos desse hotel muito além do céu. Nada a temer, nada a combinar na hora de achar o meu lugar no trem.
Lô, Milton Nascimento, Brant, e uma galera, faziam música como não se faz mais hoje em dia. E não se trata de melancolia gratuita, resmungos de quem já passou da idade. São outros tempos, nos quais não se faz mais música nas esquinas, sob o luar. Amigos não se encontram mais todos os dias para conversar, rir, viver. No máximo, trocam mensagens com filosofia de botequim e piadas nos aplicativos de mensagem (os meus são assim e eu acho isso até muito bom). Também não gravamos mais fitas K-7, não pedimos música nas rádios e não pegamos mais discos emprestados com os amigos.
Coisas que a gente se esquece de dizer. Frases que o vento vem as vezes me lembrar. Coisas que ficaram muito tempo por dizer. Na canção do vento não se cansam de voar.
A última vez que fiz isso - pegar emprestado - o disco já era CD. Peguei emprestado da minha amiga Lúcia e, juro que não de propósito rs, fui me esquecendo de devolver. Era justamente O Clube da Esquina 2, do Lô Borges. A gente se ocupa, trabalha, estuda e quando vê, lá se vai mais um dia...
Eu só me lembrava de devolver o disco quando via a Lúcia. Aí, com aquela cara de pau que reservamos aos amigos, mesmo estando um tantinho envergonhados, eu prometia entregar em nosso próximo encontro. E esse vexame se repetiu até que um dia ela disse: pode ficar com ele, eu já comprei outro pra mim. Pense num vexame feliz. Eu poderia ter comprado o CD, poderia. Mas aí, não teria essa história para lembrar. E fazer o disco e a música ainda mais especiais.
Porque pensar em um clube de esquina é pensar em reunião de amigos queridos e à toda prova. Essa história do CD já tem muitos anos e sempre penso nela quando ouço a música. Hoje, me deu vontade de compartilhar e no ar livre, corpo livre, aprender ou mais tentar.
O cavaleiro, marginal banhado em ribeirão, partiu nesse dia 02 de novembro. É difícil acreditar, mas isso é tão normal. Não precisa medo, não. Não precisa da timidez. Todo dia é dia de viver.
Com referências das músicas: Um girassol da cor do seu cabelo; Para Lennon e MacCartney; Trem de doido; Paisagem na janela; O trem azul e Manuel, o audaz.
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| Maria D'Arc é jornalista | 


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