O cheiro do pão pela casa


Pães doces pequenos dentro de bacia cor-de-rosa

Nunca tive tempo de cozinhar em minha casa. Os afazeres da vida me deixavam longe da cozinha e eu sempre acreditei que não tinha muito jeito para a coisa. Um dia resolvi colocar a mão na massa e, sem medo, fiz algo especial. Torcendo para que tudo desse certo, a primeira etapa, que é quando a massa cresce, foi um sucesso. Fiquei tão feliz, tão feliz, que até ali já tinha valido à pena. Contudo, o pão ficou muito bom. Meu primeiro pão.

Coloquei-o no forno e quando o bonitão começou a assar o cheiro se espalhou pela casa toda. Foi quando minha memória afetiva me levou para um passado bem distante, lá pelos idos dos anos 70, quando ainda criança, ia brincar no quintal de uma vizinha nossa. Um quintal que nos fazia sonhar esperando dias melhores.

O almoço, naqueles tempos, era muito cedo, já que as pessoas também acordavam cedo demais. Então, lá pelas 14 horas, ela preparava o café da tarde. Eram pobres como nós, mas todos os dias o ritual se cumpria. Eu achava aquilo incrível! Minhas condições financeiras - ou melhor, a de meus pais - eram melhores. 

Mas nada fazia me sentir tão bem quanto tomar aquele café colhido no pé e torrado no forno à lenha. Num singelo forno, onde ela assava os pãezinhos doces feitos com ovos de galinha caipira, que corriam pelo quintal, leite gordo, trigo, fermento e açúcar. Tudo tão simples e delicioso.

 Pães cortados, mostrando o interior fofinho, com furinhos

Nunca vou esquecer aquele gostinho de quero mais, pois não pedíamos para repetir com medo de minha mãe brigar conosco e não permitir que voltássemos àquele lugar. Mas o que realmente nunca irei esquecer é o cheiro de pão, que deixava aquele lugar simplesmente melhor do que poderia ser. Era a coisa mais deliciosa do dia. Sentir o cheiro do pão assando e depois vê-lo sair do forno com os olhos cheios de vontade e a boca salivando. Que sensação!!!

O cheiro daquele pão nunca mais saiu da minha cabeça. É por isso que gosto tanto de fazer um pãozinho sempre que posso, pois o cheiro de pão pela casa me faz reviver dias felizes da minha infância.
Rosto de mulher, sorridente, usando óculos de armação preta.

Adriana Reis é jornalista e começa a descobrir entre panelas e temperos uma nova profissão.

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1 Comentários

  1. Parabéns!RU veio com uma linguagem deliciosa para se degustar de manhãzinha na leitura do café de domingo. Sem dar conta do tempo amei tudo que li.

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