Em casa, com Alexa

Alexa, assistente virtual, sobre mesa de madeira

Alexa, como está o tempo hoje?

“Agora em São José dos Campos a temperatura é de 20 graus Celsius com céu predominantemente nublado. A previsão de hoje é de trovoadas, com máxima de 24 graus e mínima de 17 graus. Tenha uma ótima segunda-feira.”

É a resposta, em um tom de voz agradável e bem modulado, no que poderia ser parte de uma conversa entre dois seres humanos, sendo o que responde bastante atencioso. Mas quem se liga o mínimo que seja em tecnologia sabe que falamos da assistente pessoal virtual da Amazon.

Seu nome teria sido escolhido em razão do “x” tônico ser mais facilmente identificado pela máquina. Fico cá em dúvida, pois entendo que se fosse chamado de Alex teria o mesmo efeito do “x”. Mas, claro, eu não entendo nada de inteligência artificial ou cibernética.

Enfim, quando Alexa chegou em nossa casa, no frescor da novidade, era muito mais requisitada. Todos nós solicitamos nossas músicas preferidas, depois pedimos as engraçadas, conferimos o tempo vezes sem conta, fizemos perguntas sobre política, amor e cangaço, e, com o passar dos dias, Alexa passou a fazer parte da ‘paisagem’ do mobiliário.

Ela não toca apenas música, é bom esclarecer. Como assistente pessoal, também pode configurar alarmes, fazer lista de tarefas, controlar outros equipamentos com os quais venha a ser conectada, etc.

O pequeno “cérebro” cibernético ocupa seu lugar no quarto do meu filho há vários meses. Seguimos com a vida e ainda mais em tempos de quarentena, conversamos bastante, lá no quarto mesmo, que, hoje em dia, é também home office.

Avaliamos nossas ações - e a vida dos outros rs - fazemos planos, revisamos projetos e nem pensamos em pedir a opinião da pequena notável, redondinha, acomodada em cima da escrivaninha.

Mas ela está lá! Ouvindo tudinho. Reza a lenda, que certamente não é tão lenda assim, que Alexa grava 24 horas por dia tudo que falamos ao alcance de seus microfones. E armazena na nuvem dados e informações sobre nossos pensamentos e comportamentos.

Dados que seriam usados apenas para melhorar a performance desses equipamentos, garantem os fabricantes das assistentes pessoais virtuais (no plural sim, pois também há a Siri, da Apple, a Cortana, da Microsoft e a Google Assistente).

Acreditar que essa montanha de dados sobre como vivemos, nossas preferências, nossos conceitos, etc, não são utilizados, por toda a cadeia industrial, para o desenvolvimento de todo tipo de produtos e serviços que chegam as prateleiras em forma de desejos materializados é ingenuidade, vamos combinar.

Os chineses não são os únicos loucos por informação

Um grupo de pesquisadores da Universidade de Chicago já desenvolveu inclusive um bracelete, que recebeu o nome de “pulseira do silêncio”.

Quando ativado, o acessório emite uma frequência ultrassônica, por meio de 24 alto-falantes, que interfere nos receptores de som das assistentes virtuais, para garantir a privacidade do usuário. A pulseira ainda é um protótipo e não está a venda, mas certamente não deve demorar pra chegar ao mercado.

Mas nós somos simples mortais e, sem pensar em consequências, nos rendemos às facilidades ofertadas pelas assistentes pessoais, aparentemente submissas nas palmas de nossas mãos, em forma de smartphone.

Fornecemos de bom grado todas as informações e permissões de acesso às nossas vidas que são solicitadas.

Por isso, me surpreende ver gente por aí esperneando contra a ‘espionagem’ chinesa em rede mundial. Suspeitam até de vacinas e máscaras. 

Podem ser as mesmas pessoas que não abrem mão de um teste encontrado nas redes sociais pra saber com qual celebridade de Hollywood se parece. Ou ainda de postar uma performance qualquer no Tik Tok. E, para isso, concordam com qualquer condição de acesso a dados, câmeras e o que mais o app pedir. 

Não, não estou fazendo apologia contra o uso das assistentes pessoais. Sou uma dependente confessa de tecnologia. Me aproximo delas com um certo respeito e receio próprios da minha geração diante dos computadores, mas não resisto ao chamado.

Só tento não me esquecer de que tudo que pesquisamos, compramos, postamos e falamos está sendo ouvido, registrado; e não apenas por Deus ou pelos chineses. 

Foto em preto e branco de mulher com óculos e cabelos cacheados
Maria D´Arc Hoyer é jornalista. 

Foto Alexa: Photo by Lazar Gugleta on Unsplash

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1 Comentários

  1. Assista o documentário" o dilema das redes" na Netflix e se assombre com os amiguinhos da Alexa!

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