A coragem de assumir que curto filmes natalinos

Rena em meio a arbustos

Ultimamente eu encasquetei de assistir filmes de Natal. Já vi ao menos meia dúzia na Netflix e mais alguns no canal Universal, que decidiu incluir filmes natalinos na programação por mais um de mês.  

O primeiro que assisti foi uma escolha aleatória, em busca de algo mais leve para espanar da cabeça a poeira escura desses dias nebulosos, que vivemos juntos. Fora a poeira da vida pessoal, que não há quem possa dizer que não tem.

Depois, um pouco por preguiça mental de procurar outros temas leves, continuei. Quando meu dia de trabalho termina, por volta das nove da noite, eu escolho um filme com tema de Natal e me acomodo com pipoca ou salada de frutas para curtir um momento fora do mundo.

São filmes que falam de milagres de papai noel ou Papai do Céu, reencontro de namorados de infância, perdão entre familiares ou amigos. Alguns têm um toque de magia. Todos têm o brilho das luzes, as soluções simples e rápidas - e perfeitas - para o voo cancelado, o emprego perdido, as relações quebradas.

Qualquer pequeno drama do cotidiano, que marca a mudança de rumo involuntária dos personagens e os coloca em rota de colisão com sonhos e projetos deixados pelo caminho.   

Tudo em meio à brancura da neve, casinhas de biscoito de gengibre, pinheiros naturais para enfeitar e perfumar a casa e outras tradições que não fazem parte da nossa realidade. Algumas histórias e produções são até descuidadas, com atores de talento bem questionável (mas todos lindos, bem penteados e usando as cores clássicas do Natal, rs).

Outros filmes têm um capricho a mais e alguns nomes reconhecidos. Um dos meus preferidos é “O trem de Natal” com Dermont Mulroney, Danny Glover e Joan Cusack. Sou muito fã dos três. 

Da grande maioria não me lembro nem o título na manhã seguinte, mas eles me fazem dormir melhor; alheia a esses doidos enredos políticos e tragédias urbanas.

Desligar a mente é tarefa difícil

Fechar as portas da mente para o mundo ruidoso e intolerante que habitamos hoje não é nada fácil e como sou péssima em meditação, essa tem sido minha pequena fuga. ‘À espera de um milagre’ que possa colocar nosso planeta azul de novo no prumo.

Enquanto assisto, me esforço para que a mente não divague pela dureza das tarefas, que estão mais difíceis de cumprir, por conta da máscara, filas e horários reduzidos para funcionamento dos serviços. Sem falar do receio, onipresente, de ser contagiado pelo coronavírus ou, pior, por essa raiva incontida e mal explicada que vêm aflorando por aí.

Por fim, fui começando a gostar de filmes para os quais costumava torcer o nariz. De tanto assistir a essas histórias clichês, tenho me flagrado refletindo que as soluções rápidas desses filmes básicos têm seu valor. 

Que, talvez, a gente complique demais nossa breve existência. Que 'dias melhores' pode ser apenas e tão somente fazer o que traz brilho aos olhos. Que vale a pena trocar uma posição de sucesso pelo amor da sua vida. Que a opinião dos outros é dos outros e ponto. Que milhares de likes em uma rede social não têm o valor do aconchego de um único abraço fraterno.

Que os enredos dos filmes natalinos, de simplicidade gritante, flertam com a profundidade de uma das frases mais lindas da literatura: *O que a vida quer da gente é coragem.
 
Mulher morena de óculos
Maria D´Arc Hoyer é jornalista

*Guimarães Rosa - Grandes Sertões: veredas.
"a vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem"

Rena - Photo by Chris Greenhow on Unsplash







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