A florada do ora-pro-nóbis

Flores de  ora-pro-nóbis

Eu passo por lá quase todo dia, há semanas. Olhos no chão, atenta à calçada irregular. Vai que eu ‘trupico’ e me ralo toda? Ando sem tempo para esses incidentes, então tomo cuidado. Problema é que o olhar no chão nos faz perder as pinturas do caminho. Meses caminhando por lá e eu não havia percebido que a cerca de arbustos, à beira do barranco, era formada de ora-pro-nóbis. Mas hoje testemunhei o que já sabia e nunca tinha visto pessoalmente. A planta trepadeira, comestível, cheia de virtudes para a saúde, com vitaminas A, C, E, K, ferro e do complexo B, também dá uma florada impressionante.

Meu olhar capturado foi seguindo a formação de arbustos verdes salpicados de branco, meio distante de mim, debruçada na ribanceira que não permitia a aproximação sem risco. Triste por não poder chegar pertinho, dobrei a esquina e pasmei diante da árvore toda enfeitada com as flores da trepadeira que a utiliza como apoio e retribui com beleza. 

A ora-pro-nóbis, vestida de gala, oferecia ali um banquete às abelhas e mamangavas (minha avó chamava de mangangá e errado não está). Um baile de cores, perfume e zumbidos. Um deleite para olhares cansados de tantas imagens tristes que chegam até nós, queiramos ou não.

Minha caminhada - “a passos de chuva” para cumprir orientação médica - fez pausa estarrecida para contemplar tanta beleza. E que pausa, meus amigos. Mesmo que por cinco minutos. É muita flor. Cada uma com cinco pétalas de um branco esmaecido, esverdeado, que serve de bandeja para um tufo de delicados filetes vermelho vibrante, encarregados de sustentar o pólen amarelo ouro, mesma cor ostentada pelo estigma poderoso no centro da formação. E o cheiro? Ah, esse é indescritível.

Flor de ora-pro-nóbis

Escrevo e descrevo o possível porque não seria justo guardar só pra mim o momento de êxtase do olhar.  Também porque cada florada da ora-pro-nóbis dura apenas doze horas. Registrada aqui, ela vai mais longe e, de certa forma, se eterniza. E ainda porque não seria certo deixar de lançar aos ventos um agradecimento à pessoa (ou pessoas) que planta e cuida de embelezar àquela parte do barranco. 

Um barranco que se despenca em direção ao córrego posto à margem do asfalto por onde passam carros, caminhões e outros veículos apressados, levando gente obrigada a cumprir obrigações e sem tempo para ver a efêmera florada do ora-pro-nóbis. 

Mulher grisalha com cabelos cacheados e usando óculos.
Maria D'Arc é jornalista


Postar um comentário

0 Comentários